Lembram-se?
De um país ao qual foi entregue a organização de um grande evento desportivo internacional - um dos maiores do mundo, dizem os seus sábios promotores...
De um país que construiu [ou renovou] dez excelentes, funcionais, confortáveis e dispendiosos recintos desportivos que estavam à frente e tudo o que de melhor se fazia no mundo...
De um país onde um certo desporto ia finalmente, e graças a esse evento internacional e aos moderníssimos estádios, entrar no século XXI, adaptando-se às novas realidades económicas, sociológicas e culturais...
De um país onde se celebrou o fair-play e se condenaram os excessos de hooligans [ingleses, pois então] alcoolizados e violentos...
De um país onde o grande evento desportivo internacional mobilizou milhões de bandeiras, bandeirinhas, gravatas e cachecóis...
De um país cuja selecção nacional uniu todos os cidadãos numa onda que varreu cidades, vilas, aldeias e berças...
Reconhecem?
Um país que acordou numa noite de Domingo, triste e acabrunhado, vendo que o sonho se havia desmoronado sob os toscos pés de um punhado de gregos...
Um país ao qual só se exigia, no máximo, que construísse ou remodelasse oito estádios...
Um país onde os clubes gastam o que não podem, são geridos por gente que também podia estar a gerir uma mercearia ou a descacar batatas...
Um país onde, à mínima contrariedade, se insultam jogadores, treinadores, dirigentes, adversários e curiosos...
Um país onde se aplaudem os vencedores e se espezinham os vencidos...
É o mesmo país. É o país dirigido por Luís Filipe Vieira, Jorge Nuno Pinto da Costa, António Dia da Cunha. É o país onde o líder de qualquer claque ou grupo de arruaceiros tem honras televisivas. É o país de Santana Lopes, João Jardim, Valentim Loureiro, Gomes da Silva, Ferreira Torres, Fátima Felgueiras, José Castelo-Branco, Narciso Miranda e de outras personagens do mesmo, ou inferior, calibre.
Esse país é uma merda. Ou, nas palavras mais elegantes de Eça de Queiroz, uma choldra.
It is not my country!