Morrer de frio

Um estudo elaborado por uma equipa de cientistas da University College de Dublin (Irlanda) e publicado no Journal of Epidemiology and Community Health revela que em Portugal morrem 8800 (oito mil e oitocentas) pessoas de frio durante o Inverno. Estas mortes prematuras têm que ver com a percepção que nós, portugueses, temos de que o nosso lima é ameno e, como tal, não nos precavemos devidamente contra o frio. O pior é que o estudo acrescenta que há um baixo investimento na educação dos portugueses e, presumimos, na transmissão de informação relativa aos cuidados a ter com o frio. E acrescenta ainda o mesmo estudo que há também falta de investimento nos cuidados de saúde. E há mais: as nossas habitações são ineficazes a nível térmico, ou seja, estão incorrectamente construídas.
Depois das alegadas mortes devido às vagas de calor do Verão, só nos faltava agora virem os académicos irlandeses dizer que nós não aguentamos o frio. Eles têm é inveja do nosso clima ameno... Sr. Ministro da Saúde: salve-nos das calúnias e diga quantas são, realmente, as mortes devido ao frio em Portugal.


Partido pra pular

Os sexagenários Rolling Stones, alegadamente a maior banda de Rock'n'Roll do universo, actuaram no renovado (e lotado) Estádio Municipal de Coimbra no passado fim de semana (Sábado). Os milhares que devem ter deixado Coimbra num caos, adoraram o concerto, gritaram, bateram palmas e pularam. Fizeram bem: afinal tristezas não resolvem crises e parece que os velhotes continuam a dar muito bons concertos.
Parece que durante o fim de semana decorreu em Matosinhos um congresso do CDS-PP. Não demos por nada. O fim de semana é para descansar (não, não fomos ver os Rolling Stones).

Irrelevâncias

Hoje ainda é Domingo. Preguiça. Cérebro desligado. Testes imbecis na Internet.

3500 e sete mil alemães terão morrido devido à vaga de calor. Mais mil a 1400 holandeses. 11.400 em França. E nove em Portugal. Somos um povo rijo. Que aguenta.

A Académica ganhou ao Vitória de Guimarães. Em Guimarães. Adeus, Artur Jorge.

A gente bem avisou...

Pois é... Lá apareceu aquele ex-dirigente do MRPP que agora, consta, é Primeiro-Ministro de Portugal a dizer que "estamos sinceramente convencidos que grande parte dos fogos são provenientes de mão criminosa". Depois lá concedeu que o calor (claro, sempre o sacana do calor...), a negligência e a falta de limpeza das matas e florestas contribuíram também para os incêndios. Quanto ao calor, enfim, é a mãe Natureza... Agora quanto à negligência e à falta de limpeza daquela que (ainda) é uma das maiores riquezas nacionais - as florestas - já nos parece que o governo de Portugal bem podia já ter feito qualquer coisinha... Quase nos esquecíamos: diz o Dr. Zé Manel (a.k.a. Durão Barroso a.k.a Durão Burroso a.k.a. O Cherne) que desta vez é que é, desta é que o país vai aprender a lição. Vai uma apostinha?

Some like it hot...

A propósito de calor (da segunda vaga): citando Jorge Palma, apetece dizer: "Ai Portugal, Portugal..." Voltou o calor e, com ele, os (inevitáveis?) incêndios. Lá vamos ter que ouvir novamente os (ir)responsáveis do costume falar em actos criminosos e medidas de prevenção e as generalidades do costume...

A propósito de calor (da primeira vaga): afinal descobriu-se que não foram quatro as vítimas mortais, mas nove. Nove? Não estarão os senhores do Ministério da Saúde a exagerar nos números?...


Pelos caminhos de Portugal

Já se descobriu a causa da queda da ponte no IC19: a gravidade. A ponte caiu porque, simplesmente, estava de pé. Esta parece ser a conclusão do inquérito-relâmpago feito pelo Instituto de Estradas de Portugal (cujo Presidente se demitiu ontem). É a versão da Engenharia Cívil para um velho dito popular: para morrer basta estar vivo (ou não aguentar o calor, acrescentamos nós...).

Insólito: hoje à tarde uma avioneta aterrou na A1 que liga Lisboa ao Porto (e vice-versa...). E adivinhem a causa de tão insólito acontecimento... Não, a avioneta não aterrou simplesmente porque estava no ar. A culpa foi... tchanan! Do calor! É verdade: o motor sobre-aqueceu e o piloto foi forçado a uma aterragem forçada e o que estava mais à mão foi mesmo a A1.

Tudo bons rapazes (portugueses, trabalhadores e honestos):
José Braga Gonçalves
Associação de Suinicultores de Leiria
José Miguel Júdice
Major Valentim Loureiro

José Braga Gonçalves, um dos arguidos do processo Universidade Moderna que se encontra em fase de conclusão, reconheceu ontem que cometeu "erros de conduta, uns por omissão, outros por acção", afirmando ainda que "quer compensar Universidade Moderna" pelos danos que esses "erros de conduta" ("por omissão ou por acção") tenham eventualmente provocado. É comovente. Mas o senhor disse mais: "Nunca tive, nunca me passou pela cabeça, qualquer intuito de prejudicar a universidade, que é filha do meu pai." Ora isto transforma o caso Moderna numa verdadeira telenovela: a Moderna é, portanto, meia-irmã de José Braga Gonçalves. Sim, o senhor disse que ela é filha do pai, não que é filha do pai e da mãe. Algumas dúvidas se levantam: então quem é a mãe da Moderna? E esta filha - a Moderna - nasceu de alguma relação extra-conjugal de Braga Gonçalves-pai ou é fruto de alguma relação anterior? Adiante. O senhor confessou ainda, finalmente, a sua culpa relativamente a alguns dos factos da ausação: chamou-lhes foi erros (por omissão ou acção, recorde-se...). E até se afirmou "assolado pelo arrependimento"... Realmente comovente. Agora só falta um final feliz, talvez com uma bela cena de casamento à boa maneira dos finais de telenovela made in Globo. Talvez da filha de Braga Gonçalves-pai com alguma vedeta do jet set nacional. A noiva até podia ir para a igreja de Jaguar. Azul...

A Associação de Suinicultores de Leiria acha que o Estado português lhe exige uma comparticipação demasiado elevada para a construção da rede de saneamento das explorações (de suinicultura, refira-se...), rede esta integrada no projecto de despoluição do Rio Lis. O projecto está orçado em 35 milhões de euros (mas deve sair um bocadinho mais caro, como é usual nas obras públicas em Portugal) e o Estado exige que os suinicultores entrem com 10% dessa verba, sendo que o resto sai, presume-se, do bolso dos contribuintes. E os criadores de porcos acham que isso (10%) é um exagero... Claro que é... Nem foram os criadores de porcos quem poluiu o Rio Lis... Foi o Prestige, om toda a certeza.

José Miguel Júdice, Bastonário da Ordem dos Advogados, pediu aos advogados do processo Casa Pia que se contenham quando prestarem declarações públicas (ou seja, quando falarem para a Comunicação Social). Não lhe fica nada mal este pedido. Aliás, contenção é algo que se recomenda a qualquer pessoa que faça declarações à Comunicação Social. Mas porquê este pedido? Achará o senhor Júdice que algum dos advogados se excedeu?

O Major pau para toda a colher, entre muitos outros tachos Presidente da Liga de Futebol Profissional, diz que a "maior parte dos jogadores têm provas dadas" (jogadores da Selecção Nacional de futebol, esclareça-se). A maior parte, senhor Valentim Loureiro? Quer então dizer o atarefado major que o brasileiro campeão do Mundo tem convocado jogadores (ainda que a minoria, conceda-se...) sem provas dadas? Estará o senhor dos sete ofícios a insinuar que há jogadores que não deveriam lá estar? Sim, porque se não têm provas dadas, parece-nos que não deveriam ser convocados. Certo?
Depois ainda resolveu defender o seleccionador: "Não percebo como é que há quem que, por causa de um jogo que, de facto correu mal, venha atirar pedras, atirar suspeições e pedir a cabeça de quem quer que seja" . Desculpe lá senhor major, mas um jogo que correu mal? Então e aquele empate com o poderoso Cazaquistão? (Sim porque, desculpem lá, ganhar com um golo daqueles é pior que perder...). Foi um jogo que correu como? Menos mal? Assim-assim?

Notas soltas

Ainda e sempre a Casa Pia: o Conselho de Administração da RTP decidiu abrir um "inquérito interno para apuramento de factos" sobre o alegado envolvimento de antigos e actuais funcionários da estação televisão no caso de pedofilia da Casa Pia. Parece que houve funcionários que utilizaram meios da televisão estatal para realizar filmes com menores da Casa Pia. Verdadeiro serviço público... Já nada nos surpreende.
Já agora: porque foi a presidente (ou lá qual é a designação da senhora...) da Comissão de Trabalhadores da RTP dar uma entrevista à TVI?

Selecções Nacionais: tanto talento, tantos artistas, tantas estrelas e vedetas e virtuosos do pontapé na bola. Tão pouco futebol... A Selecção de sub-21 perdeu com a Turquia e está a ver o Europeu por um canudo. A Selecção principal perdeu, copiosamente, com Espanha e, pior que perder, o seu futebol foi de uma pobreza franciscana. O Scolari bem pode dizer os disparates que quiser, mas parece-me que já só ele e o Gilberto Madail é que ainda acreditam ser possível a esta Selecção vencer o Euro 2004. Aliás a jogar assim, Portugal só se apurou para o Euro porque... o organiza.
Já agora: o jogo com Espanha realizou-se num Estádio (D. Afonso Henriques em Guimarães) que não está licenciado. Nada de muito surpreendente em Portugal: surpreendente seria se estivesse...

Pontes para o futuro: Domingo caiu um viaduto no IC19, que liga Sintra a Lisboa. Para quem não saiba, aquela estrada é uma das mais congestionadas do país, com engarrafamentos diários e monumentais. Felizmente era Domingo. Felizmente não houve mortos. Se Paulo Portas fosse o Ministro responsável pelas estradas portuguesas, de certeza diria que foi Nossa Senhora que evitou males maiores. Sim, se a Senhora evitou que a tragédia do Prestige afectasse Portugal, o que é um viaduto para Ela?...
Já agora: porque não pede a Manuela Ferreira Leite que a Senhora lhe resolva o problema do défice? Será que Manuela não é crente?

O Mistério da Educação...

Há, como todos bem sabem, em Portugal vários insondáveis mistérios. Qual o terceiro segredo de Fátima? Porque é que o Benfica não é campeão? Porque é que os empresários portugueses só sabem pedir subsídios? Porque temos um Sistema Nacional de Saúde que deixa os portugueses doentes? Porque ardem tantos hectares de floresta por ano? Como é que um peixe chega a Primeiro-Ministro? Enfim, a lista é imensa. Há um que me intriga profundamente - o mistério da Educação. Que ainda por cima se agravou esta semana com o rocambolesco folhetim das colocações de professores do ensino básico e secundário. O sr. Justino da Educação bem pode dizer as parvoíces que lhe passarem pelo toutiço, mas a verdade é que o que tem passado esta semana (e que é do conhecimento público) é, no minímo, terceiro-mundista. Acontece que não há propriamente um mistério no caos que é o sistema educativo português (que de educativo tem bem pouco, diga-se de passagem...): incompetência, desleixo, desrespeito - as três palavras-chave para desvendar o mistério. Os senhores e as senhoras que há décadas circulam pelos corredores do Ministério da Avenida 5 de Outubro (e por todas as suas delegações, direcções regionais, áreas educativas e demais departamentos espalhados pelo país) são incompetentes e desleixados, não respeitam ninguém, principalmente os professores e, por arrastamento, os alunos e alunas e respectivos pais, mães e encarregados de educação. O folhetim desta semana é apenas a parte visível do modus operandi do monstro que gere a educação em Portugal. Se não fosse dramático, seria cómico. Infelizmente, é triste. É lamentável. É criminoso: com o sistema educativo no estado a que chegou não peçam aos professores e professoras mais motivação e dedicação - tanto quanto me é dado observar, os professores e professoras deste país estão a atingir o ponto de saturação. Como querem um ensino de sucesso, com profissionais que são constantemente desrespeitados e humilhados por quem os devia promover e auxiliar? E quem perde, no fim de contas, com tudo isto? As crianças e adolescentes que frequentam as escolas públicas. Ou seja, aqueles a quem normalmente os nossos governantes gostam de se referir como o futuro de Portugal. Vamos ter um lindo futuro, vamos...

Morte ao sol

O sr. Luís Filipe Pereira - o tal que, supostamente, é o responsável pela pasta da Saúde em Portugal - foi esta tarde à Assembleia da República para falar sobre as (alegadas) 1316 mortes provocadas pela vaga de calor que há semanas assolou Portugal (segundo dados do Instituto Ricardo Jorge). Afinal, como já se calculava, não morreram 1316 pessoas. Analisadas metade das certidões de óbito, concluiu o sr. Ministro que as vítimas foram muito menos: "O ministro da Saúde relaciona quatro mortes directas com a onda de calor das primeiras semanas de Agosto. Luís Filipe Pereira garante que houve 545 mortes neste período de tempo mas nem todas estiveram relacionadas com o calor." (Fonte: TSF). Estava-se mesmo a ver que a Comunicação Social, em conluio óbvio com a Oposição, é que tem andado a espalhar infâmias, procurando minar a confiança dos Portugueses e das Portuguesas no iluminado grupo de Ministros, Secretários e Sub-secretários de Estados, Directores-Gerais e Assessores que governa este jardim à beira-mar plantado. Ainda hão-de vir dizer que metade (pelo menos!) dos incêndios deste Verão não passaram de encenações e montagens dos canais de televisão... Afinal, apesar das imagens televisivas, ainda há quem ache que Neil Armstrong nunca caminhou na lua e que tudo não passou de uma invenção dos Americanos (e sabem os deuses que capazes disso eram eles...).