sexta-feira, outubro 31, 2003

Prioridades nacionais

Afazeres profissionais só me permitiram ver um dos noticiários televisivos da hora de almoço (e apenas a repetição que vai para o ar a meio da tarde no Canal 2), o da RTP 1, a televisão pública portuguesa, para que fique claro... O grande tema deste noticiário não foi a Casa Pia, nem a crise económica, nem o Orçamento de Estado, nem a nova data para a leitura da sentença do caso Moderna, nem sequer os temporais que se abatem sobre Portugal desde ontem, muito menos a nova aparição de Fátima (a de Felgueiras) ou imagem de Nossa Senhora de Fátima que verte lágrimas (de cera!)... Não senhor. O grande tema do telejornal do canal do Estado (e, pelo menos, três directos) foi o Benfica e as eleições para os respectivos orgãos sociais que têm hoje lugar. Prioridades nacionais, pois claro...
Coragem, clareza, lucidez

Ontem à noite, Maria José Morgado, procuradora-geral Adjunta no Tribunal da Relação de Lisboa, concedeu uma (excelente) entrevista a Judite de Sousa (RTP 1), entrevista essa que deveria ser retransmitida em sessões contínuas. Hoje o Público também traz uma entrevista com Maria José Morgado que deveria ser fotocopiada e distibuida por todos os locais de acesso público do país e todas as instituições que nos dirigem (a começar pelo Governo e passando pelo Parlamento, autarquias, Ministério Público, etc, etc, etc...). Podia ser que as nossas classes dirigentes e as nossa baças elites aprendessem alguma coisinha com a ex-directora da Polícia Judiciária. Estas entrevistas surgem a propósito de O Inimigo Sem Rosto, livro de Maria José Morgado que é hoje publicado.
O exílio

Essa grande combatente da democracia e da liberdade que é Fátima Felgueiras voltou a dar sinais de vida a partir do Brasil. A pobre senhora, ex- presidente da Câmara Municipal de Felgueiras (nada de piadas fáceis alusivas à coincidência do seu apelido com o nome do concelho...), continua a considerar-se uma exilada uma vez que um "sistema [de justiça] demasiado viciado para nos tratar com justiça" a obrigou a afastar-se da sua santa terrinha. Esta nobre defensora dos justos e oprimidos acha ainda mais: considera-se uma exilada política. Tudo isto e muito mais numa pungente entrevista publicada no semanário A Voz de Felgueiras, da sua (dela) santa terrinha, Felgueiras. A desgraçada senhora vocifera contra tudo e contra todos, excepto o "povo de Felgueiras" que "conhece bem a sua Presidente" e que a elegeu porque "precisa" dela.

quarta-feira, outubro 29, 2003

Barulho infernal

Apesar dos insistentes pedidos, vindos das mais variadas figuras (que depois não fazem aquilo que pedem aos outros para fazer...), é impressionante o número de pessoas que, a propósito de tudo ou de nada, continua alegremente a opinar e a pronunciar-se sobre o caso Casa Pia. Mas quando é que alguém, e citando livremente José Miguel Júdice, põe termo a isto?
Mau ambiente

Mais uma vez a culpa há-de ser atirada para cima dos jornalistas. A comunicação social, com destaque para o Público e TSF, noticiou que estava iminente a transferência da tutela das áreas protegidas do Instituto de Conservação da Natureza (ICN) para a Secretaria de Estado das Florestas. O ministro das Cidades, do Ordenamento do Território e do Ambiente, Amílcar Theias, reagiu veemente contra essa eventual transferência (que esvaziaria de competências fundamentais o seu Ministério), falando mesmo em "cedência a interesses particulares". Antigos responsáveis pela pasta do Ambiente pronunciaram-se contra. Os ambientalistas idem aspas. Falou-se em "retrocesso civilizacional". E vai-se a ver não passa tudo de uma "hipótese [que] nunca foi sequer considerada" (PM dixit em Luanda). Já para o ministro da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas , Sevinate Pinto, "a origem da polémica é real" mas, acha o senhor Sevinate Pinto, atingiu proporções "perfeitamente injustificadas" (a polémica, não os seus disparates...). Pois é. A culpa deve ser dos malandros dos jornalistas que não têm mais que fazer senão inventar notícias para deixar os políticos enrascados...

terça-feira, outubro 28, 2003

Cosméticos

De acordo com a Agência Lusa, José Silva Lopes, economista e ex-Ministro das Finanças, acusa o Governo de aplicar "cosmética" contabilística ao Orçamento de Estado para 2004. Segundo o economista, o Governo pode, assim, mostrar maiores receitas. Achamos bem. Com cosméticos (um pouco de eye liner, algum rouge e baton...) o orçamento fica muito mais atraente. Talvez até a própria Ministra possa beneficiar alguma coisita com isso... Quem não parece gostar muito de cosméticos, para além de Silva Lopes, é a Comissão Europeia: continua a achar que o défice português vai ultrapassar os 3% em 2004.
Tanto barulho para nada

"As autoridades suecas anunciaram terça-feira que não detectaram substâncias dopantes nas seringas encontradas num quarto de um hotel de Malmo onde estavam alojados futebolistas do Sporting, por ocasião do jogo da Taça UEFA com a equipa local." (Lusa)
Afinal a polémica toda foi por causa de quê?

We couldn't help it...

Desculpem lá, mas não resistimos... Ministra da Justiça diz que revisão das escutas telefónicas está já em reflexão. Pois. Deve ter arranjado um meio de colocar a revisão em frente a um espelho. Ou colocou-se ela própria frente a um espelho.
Agora que os dias são cinzentos

Um pouco de azul. Da vida em azul. Mas também de viagens em azul. Dos blues deste senhor, mas também de clássicos do jazz e de veludo azul. E de blue jeans, especialmente das 501. E ainda deste azul aqui (com alguma moderação).

segunda-feira, outubro 27, 2003

Fumar mata? E circular nas nossas estradas, não?

2271 acidentes rodoviários. 15 mortos, 49 feridos graves e 606 ligeiros. Em uma semana. Para quando etiquetas com avisos como "Viajar de automóvel mata - não tire a carta de condução"?
Luto - sem comentários

Entre outros alvos, a Cruz Vermelha Internacional foi hoje atacada em Bagdad, Iraque. Sem comentários, apenas uma pergunta: porquê?

domingo, outubro 26, 2003

Ele há coisas...

Recordar Fahrenheit 451 de Ray Bradbury.

Se não se deseja que um homem ponha problemas de ordem política, não se lhe dê duas soluções à escolha; dê-se-lhe só uma ou, melhor, não se lhe dê nenhuma. [...] Se o governo é ineficaz, tirânico, se vos esmaga com impostos, pouco importa, desde que as pessoas não saibam nada. A paz, Montag. Instituam-se concursos cujos prémios obriguem a decorar, a encher a memória com letras de canções em voga, com nomes de capitais de Estado ou com o número de quintais de milho colhidos no Iowa no último ano. Encham os homens de informações inofensivas, incombustíveis, que eles se sintam a rebentar de "factos", informados acerca de tudo. Em seguida, eles imaginarão que pensam e terão o sentimento do movimento, enquanto realmente apenas se arrastam.

Sem comentários. Foi escrito em 1953. François Truffaut fez um filme, magnífico, a partir deste livro.
Gostamos da Taschen

Portanto gostamos da colecção privada do Público. Depois de Picasso e Van Gogh, hoje foi dia de Rembrandt.
Foi bonita a festa, pá

Com os acessos por concluir, lá foi ontem inaugurado mais um dos novos estádios do Euro 2004. Com a presença de Jorge Sampaio (ex-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e adepto do Sporting), Durão Barroso (ex-dirigente do MRPP e adepto do Sporting) e Pedro Santana Lopes (ex-Presidente do Sporting e... adepto do Sporting), o Benfica bateu por 2 - 1 o Nacional de Montevidéu (um colosso do futebol mundial...) no jogo inaugural na sua nova casa. Manuel Vilarinho estava feliz (apesar de querer que "o Roger se foda"). Luís Filipe Vieira também (não sabemos se quer que alguém se foda...). Destaque ainda para umas declarações de Manuel Vilarinho que, além de querer que "o Roger se foda", quer sair "do desporto a ensinar alguma coisa à imprensa". Guerra Madaleno largou umas palavras de circunstância mas, infelizmente, não prometeu trazer Rui Costa para o Benfica. Jaime Antunes falou um pouco mais mas, infelizmente, não exigiu aos funcionários do clube (jogadores e treinador incluidos, naturalmente) que se calassem. Foi bonita a festa, pá.
Bastonadas do contra - o ex- ao ataque

António Pires de Lima, ex-Bastonário da Ordem dos Advogados, resolveu lançar umas opiniões sobre os métodos de trabalho do Ministério Público, comparando-os aos da PIDE e da GESTAPO. Diz o senhor António à Pública (suplemento dominical do Público: "[...] o Ministério Público actua na convicção de que tem os mesmos poderes que eram utilizados pela PIDE e pela Gestapo, designadamente quando revela uma total desconsideração pelos direitos dos arguidos." É forte. É exagerado. E, desculpe lá senhor António, é de ignorante. Em primeiro lugar, os métodos da GESTAPO eram bem piores que os da PIDE. Em segundo lugar, se o MP tem os poderes que tem, a responsabilidade é dos sucessivos governos e respectivos Ministros da Justiça que os têm alargado, de onde decorre que algumas das pessoas que nos governaram nos últimos anos seriam uma espécie de Hitlers ou Salazares... Depois da absurda comparação de Paulo Portas com Estaline (de Freitas do Amaral) ou do "tou-me cagando para o segredo de justiça" (de Ferro Rodrigues), estas declarações de Pires de Lima são mais uma demonstração do baixo (baixíssimo!) nível das elites nacionais.

sábado, outubro 25, 2003

And now for something completely different (and really important...)

Está a ser inaugurado o novo Estádio da Luz, mais um dos estádios para o Euro 2004 que todos os que pagamos impostos estamos a financiar (mesmo aqueles e aquelas que não gostam de futebol...). A comunicação social lusa tem andado a delirar com o acontecimento, especialmente a TVI que detém o exclusivo da transmissão das actividades de inauguração. A esse propósito, permitimo-nos, com grande lata, copiar directamente do Aviz de FJV: "[...] a «catedral», as toneladas de cimento, o estado da relva, as bifanas, a marcação do campo, a lama, os transportes alternativos, um vice-presidente a anunciar que toda a gente vai ser revistada (ele mencionou «armas», portugueses!, ele mencionou «armas», que vergonha), o glorioso trajecto da história do clube, os lugares sentados, a falta de estacionamento, os 65.000, o betão, as colunas, as vigas, os acessos, os uruguaios, os futuros lugares de estacionamento, a loja para as bandeiras, os taxistas, o controle UEFA, os vips, os vivas à Nação, a imprensa, os títulos vergonhosos de A Bola, os bigodes, o Barbas, o País unido e ressentido, a representação de Fornos de Algodres, o burro que vem de Elvas, a representação de Caracas, as mensagens do Luxemburgo, a gritaria, o campeonato, o espanhol, a chuva que não cai definitivamente, o mais belo da Europa, o Eusébio, a águia, a galinha, seja lá o que for" - tudo tem sido notícia.
Durão Barroso diz que reformas sociais em Portugal tiveram reduzida contestação

Diz, e diz muito bem senhor José Manuel. Muito pouca contestação mesmo. Se calhar foi porque ninguém reparou nas reformas sociais que o seu governo tão afincadamente tem andado a fazer. Andamos todos distraídos com outros assuntos, é o que é...
Entretanto, e sem se se perceber o que uma coisa tem a ver com outra, o senhor José Manuel resolveu definir-se politicamente. Parabéns. Finalmente! Já não era sem tempo. (Para os curiosos, aqui fica a auto-definição do senhor José Manuel, ex-dirigente do MRPP e actual líder do PPD / PSD: "Sou um reformista do centro e não um homem de direita").
Bastonadas do contra

José Miguel Júdice, o inefável Bastonário da Ordem dos Advogados, manifestou-se contra a redução do orçamento para a Justiça. Espantoso, sem dúvida! Estava-se mesmo à espera que o homem fosse dizer que sim, senhor, a Drª Manuela Ferreira Leite faz muito bem em cortar nas verbas para a Justiça...
"As prioridades do Ministério das Finanças estão completamente trocadas" (Bastonário dixit). Pois. Lá nisso tem razão o senhor José Miguel...
"São estes problemas, nomeadamente o acesso à justiça, a sobrelotação das cadeias e a pobreza existente no país, que nos preocupam." (Bastonário dixit, parte dois). A sério, senhor José Miguel? E nós a pensar que as cartas abertas (e as fechadas e as entreabertas) eram a sua preocupção...
John Cale

Está em Portugal para dois concertos um dos mais influentes músicos das últimas décadas. O senhor John Cale, que liderou com Lou Reed os míticos Velvet Underground, por muito que isso custasse ao poeta de Nova Iorque, actuou ontem na Aula Magna de Lisboa e repete a dose hoje, no mesmo local. Na bagagem traz o novo álbum Hobo Sapiens. Welcome back, Mr. Cale.
Comentadores há muitos, seu palerma! (E muitos deles são palermas...)

António Vitorino, comissário europeu e membro da Comissão Política do Partido Socialista, diz que não comenta a crise que o seu partido actualmente atravessa. E porque não comenta? Porque, e citamos, "Há muitos actores e muitos comentadores políticos em Portugal, não vou ser mais um deles".
A Coluna está solidária com Vitorino. A Coluna, que até comenta sem ser comentador(a) político(a), acha muitíssimo bem que Vitorino se deixe estar caladinho. É que, nos últimos tempos, em Portugal cada vez que um político abre a boca só saem asneiras, idiotices ou irrelevâncias. Enfim, palermices.
Só uma dúvida: será mesmo porque não quer ser actor / comentador político em Portugal que o senhor comissário europeu prefere manter-se calado? Ou andará ele a matutar naquilo que Mário Soares sobre ele "profetizou" aqui há uns tempos?

sexta-feira, outubro 24, 2003

All in good fun

Coimbra é uma lição, lá diz o fado... Pois... Ainda mal começou a tradicional Festa das Latas e a SIC já fez notícia com os igualmente tradicionais abusos da praxe académica. Houve um caloiro, do ISEC se bem entendemos, que se queixou ao pai que por sua vez se queixou ao Ministério da Ciência e do Ensino Superior. Parece que ataram um tijolo, por meio de um cordel, ao pénis do jovem caloiro. Além disso, o pénis do dito caloiro foi introduzido num copo de água e o rapaz terá sido obrigado a beber a água do copo (depois de lá ter mergulhado o pénis, claro). Chamam a isto "praxe" e diz o Conselho de Veteranos daquela academia que "dura praxis, sed praxis" (a praxe é dura, mas é a praxe). Apareceram ainda uns representantes da academia coimbrã a desdramatizar o caso: foi só um caso isolado. Mas apareceu também um caloiro do ISEC a dizer que sim, senhor, já ouviu falar deste tipo de praxes e que até nem acha mal, que ajuda à integração, etc e tal...
Em conclusão: preferimos os disparates de Vítor Hugo Salgado a propósito do aumento das propinas. É que se isto (isto: aquilo que fizeram ao caloiro e aquilo que obrigaram o caloiro a fazer) é praxe, já não sabemos o significado de vocábulos como "tortura" ou "humilhação". E ainda as semanas de recepção ao caloiro mal começaram...

quinta-feira, outubro 23, 2003

And now for something completely different...

Portugal foi multado pela União Europeia em 2,5 milhões de euros por produzir leite em excesso. As vacas nacionais deram mais 6965 toneladas de leite do que deviam e, por isso, os agricultores terão que desembolsar 35 cêntimos por cada quilograma produzido a mais. Afinal em que é que é ficamos? Se não há produtividade, levamos porrada, se produzimos de mais, porrada levamos.
A União Europeia, já sabemos, tem lá as suas cotas de produção fixadas, mas em vez de multar os produtores pelo excesso (e destruir o excedente), não seria mais inteligente, e bem mais benéfico, obrigá-los a enviar o excedente para onde seja necessário? Consta por aí que, se na Europa há excesso de produção (e não só de leite), em outros locais do globo há graves (e mortíferas) carências...
Mais cartas e ainda as novelas

Manuel Maria Carilho escreveu uma carta aberta (publicada no Diário de Notícias de hoje) a Ferro Rodrigues, na qual denuncia a desorientação do Partido Socialista. Tudo por causa da novela com maiores audiências no país real (a novela judicial Casa Pia). As cartas abertas (bem como as fechadas e as entreabertas...) parecem estar na moda, portanto. Só não percebemos uma coisa: se o PS anda desorientado, não seria melhor oferecer uma bússola a Ferro Rodrigues em vez de o confundir ainda mais com cartas abertas (ou fechadas ou entreabertas...).
Ainda as novelas

"O senhor procurador-geral tem de pôr termo a isto, ou então alguém tem de pôr termo ao procurador. É tão simples como isto." Quem o disse, na RTP2 anteontem à noite, foi o senhor Bastonário da Ordem dos Advogados, referindo-se obviamente ao Procurador-Geral da República. O senhor Procurador-Geral da República não gostou e escreveu ao senhor Bastonário da Ordem dos Advogados. Este vem agora dizer que vai escrever duas cartas ao senhor Procurador-Geral da República, ao mesmo tempo que afirma que "não pediu nem exigiu" a demissão do senhor Procurador-Geral da República.
Tudo isto é muito estranho, senhor Bastonário... O que quis então dizer com, e citamos, "Então alguém tem de pôr termo ao procurador" ? Não está a sugerir medidas mais drásticas que a demissão, como por exemplo... extinguir o cargo? Ou extinguir o próprio Procurador?...
Tudo isto há-de ter algo a ver com as novelas judiciárias de que falava o senhor Preseidente da República... Pelos vistos, nem o Bastonário nem o Procurador acharam boa a ideia do Presidente. É pena.

quarta-feira, outubro 22, 2003

Uma excelente ideia

Finalmente o nosso Presidente teve uma excelente ideia e pediu ontem à Nação que se deixe de novelas judiciárias, de politizações da justiça e de justicializações da politica, para se concentrar nos problemas verdadeiramente graves e importantes que a todos nos afectam (desemprego, deficite, alargamento da União Europeia, a nova constituição europeia, e um longo etc...).
Contudo, algo nos diz que a Nação se está borrifando (para não dizer "cagando", citando um conhecido líder partidário...) para as excelentes ideais do ocupante do Palácio de Belém. O povo quer é novelas e as televisões não se fazem rogadas em fornece-las... Sejam elas novelas judiciárias, novelas da vida (sur)real ou novelas, novelas brasileiras ou (lastimáveis) novelas portuguesas.
Entretanto, o segredo de justiça segue dentro de momentos...

sábado, outubro 18, 2003

O silêncio é de ouro...

Mas não foi por isso que A Coluna esteve tanto tempo em silêncio. Nem por falta de assunto. Umas vezes não nos apeteceu dizer nada. Outras não tivemos tempo. Outras não tivemos pachorra. Outras... Enfim, who realy cares?

As últimas semanas no rectângulo luso até têm sido excitantes (e não falamos só de Bragança...).

Paulo Pedroso foi libertado e o PS organizou-lhe uma mega-recepção espontânea (topam a ironia?) na Assembleia da República. Manuel Alegre não escondeu as lágrimas; já Ferro Rodrigues preferiu chorar em privado; Guilherme Silva, do PSD, demorou alguns dias a perceber que o PS tinha "big brotherizado" a AR; o Procurador-Geral da República (Souto Moura) também tem umas opiniões sobre "a politização da Justiça"; Marcelo Rebelo de Sousa idem aspas (aliás, o Professor tem opiniões sobre tudo e mais alguma coisa) e Pacheco Pereira também. Entretanto Paulo Pedroso vai dando entrevistas a tudo o que é orgão de comunicação social para explicar o inexplicável (porque retomou o lugar de deputado quando é arguido num processo de pedofília). Resumindo: não há português que não tenha opiniões sobre o escândalo Casa Pia. Escusavam era de as emitir. Já agora: Hugo Marçal, também arguido no processo Casa Pia, foi ontem libertado. Não consta que em Elvas, sua terra natal, tenha havido grandes manifestações de alegria.

A Time descobriu que Bragança é o novo red light district da Europa e as televisões regressaram a Trás-os-Montes mas encontraram poucas prostitutas; a Le Point afirmou que há dois ministros do Governo português que gostam de "ir aos meninos ao Parque Eduardo VII" e Ana Gomes (que já tem idade para ter juízo) desdobrou-se em entrevistas exigindo não se sabe bem o quê. A mesma Ana Gomes que quer saber quem paga a José Lamego (seu colega de partido...) o tacho que o Governo lhe arranjou no Iraque.

Freitas do Amaral, fundador do CDS (posteriormente PP e agora CDS-PP), comparou Paulo Portas a Estaline e comparou-se a ele próprio a Trotsky, tudo porque num filme qualquer sobre a história do CDS a sua figura foi, digamos, apagada. Não percebemos esta súbita inclinação esquerdista de Freitas do Amaral. Já agora: quem é Paulo Portas?

O Ministro da Agricultura, Desenvolvimento Rural e das Pescas tem andado todo contente porque conseguiu evitar que a poderosa frota de pesca espanhola invadisse as nossas águas territoriais e nos levasse o peixe e o marisco todo. Conseguiu que apenas mais 32 barcos de pesca do que os actuais possam pescar nas nossas águas. Parece é que a tal invasão da armada espanhola não poderia acontecer, já que todos os Tratados e Acordos da União Europeia o proibem, mas isso são decerto pormenores. Além disso, os sacanas dos espanhóis são capazes de tudo e eram capazes de se marimbar para os Tratados e Acordos...

Pedro Lynce e Martins da Cruz demitiram-se do Governo por causa de umas trapalhadas envolvendo a filha do segundo e o acesso da menina à Universidade. Parece que a jovem não tinha média para entrar em Medicina e o pai, ou alguém por ele, recorreu ao velho método português da Cunha para que a rapariga seguisse a sua médica vocação. Entretanto, a jovem renunciou ao lugar na Faculdade de Medicina. Está mal: então depois da trabalheira a que tanta gente se deu para lhe arranjar uma vagazita e da demissão de dois Ministros, a rapariga abandona a Faculdade? Ingrata!

E a propósito de ensino superior: as academias do país têm andado agitadíssimas nas últimas semanas por causa do aumento das propinas. Greves, manifs, salas e faculdades fechadas a cadeado, invasões de reuniões, desobediências civis, declarações idiotas de dirigentes universitários, discursos surreais de reitores e etc, etc, etc... Vítor Hugo Salgado, líder da Associação Académica de Coimbra, tem-se destacado pelo disparate e ainda não percebeu que o país não está muito de acordo com as suas opiniões e posições. Uma curiosidade: há dias largas centenas de estudantes de Coimbra resolveram cortar o trânsito na Ponte de Santa Clara sentando-se no chão, após terem desfilado pelas ruas da cidade. Concordamos com o direito de todos se manifestarem, já não percebemos muito bem é que haja quem ande a brincar às manifs: nas imagens televisivas foi possível ver bastantes estudantes de garrafas e latas de cerveja em punho como se se estivessem no desfile da Latada ou no cortejo da Queima das Fitas.

O futebol também tem fornecido muito material humorístico: Pinto da Costa (presidente do FC Porto) envolveu-se numa polémica com Soares Franco (vice-presidente do Sporting CP) a propósito de o Papa João Paulo II estar a morrer; o Benfica conseguiu a proeza de eliminar o La Louvière da Taça UEFA; Guerra Madaleno (candidato à presidência do clube dos 6 milhões) diz que vai trazer Rui Costa para o Benfica mas Rui Costa nega; Jaime Antunes (concorrente de Guerra Madaleno) manda calar os funcionários do clube dia-sim dia-não mas os jogadores e o treinador não devem ler jornais nem ver televisão porque continuam alegremente a comentar as eleições no Benfica; Luís Filipe Vieira (ex-líder do Alverca) ainda não cortou o bigode e continua a achar que vai elevar o Benfica ao nível do Real Madrid e do Manchester United mas nem David Beckham nem Alex Ferguson parecem muito inclinados a vir para Portugal (também é verdade que ainda ninguém lhes perguntou se querem vir...); alguém do Sporting deixou umas seringas num quarto de hotel na Suécia e a imprensa e Federação de Futebol sueca desataram a falar em doping; a poderosa Selecção Nacional da Albânia marcou três golos a Portugal no Estádio do Restelo mas, por acaso, os futebolistas lusos atiraram cinco bolas para as redes dos albaneses.

A TSF morreu. Pelo menos para nós. Além de ser uma (a única) excelente estação radiofónica de notícias em Portugal, a TSF sempre se destacou pela sua criteriosa selecção musical. Desde que Emídio Rangel tomou conta da estação a qualidade desceu ao nível de uma qualquer estação de rádio local. É triste.