quinta-feira, outubro 28, 2004

Ainda haverá esperança para a TSF?

Entro no carro, mecanicamente ligo o rádio e apanho com o Quinteto Tati nas ondas hertzianas. Esfrego os olhos - é de manhã e ainda devo estar meio a dormir. Não. É mesmo a TSF, a mesma que de há uns meses para cá se tem pautado por duvidosos - ia escrever pirosos - critérios de selecção musical. Será que o bom-gosto musical está a regressar, com pézinhos de lã, à rádio-jornal? Pelo sim, pelo não, é melhor manter uma atitude de prudente reserva.

A árvore e a floresta

Temos o estranho hábito de discutir longa e acaloradamente a árvore, ignorando a floresta. Aliás, frequentemente discutimos a pequena árvore, ignorando outras de maior porte e em mais lastimável estado de conservação.
Hoje de manhã, a SIC Notícias e a TSF abriram-se à opinião dos seus telespectadores e ouvintes para discutir as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa à Alta Autoridade para a Comunicação Social. Marcelo, Pais [ou Paes?], Silva ou Lopes são meras árvores [e algumas de fraqíssimo porte, diga-se]. O que está em causa neste momento é uma mais vasta floresta: a da Política, da Economia, da Comunicação Social e das relações entre todas. Sobre a floresta não vi nem ouvi nada.
Além do mais, SIC Notícias e TSF preferiram dar destaque a um tema que, por significativo e simbólico, é com certeza bem menos irrelevante que a retirada estratégica de Durão Barroso perante o Parlamento Europeu, uma retirada que poderá ter sérias consequências no futuro da União Europeia, espaço de que, parece-me, ainda fazemos parte.
Opções...

Jornalismo à portuguesa

Tenho cá para mim que a Política e o Jornalismo, como eventualmente o Desporto, são actividades que reflectem, genericamente a sociedade em que se inserem. Em Portugal, três décadas depois da Revolução de Abril e quase duas desde a adesão à União Europeia [então Comunidade Económica Europeia], continuamos a ter uma sociedade grandemente atrofiada por determinados, digamos, problemas e afectada por carências e deficiências de vária ordem. Por exemplo, sem cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres, responsáveis e críticos, dificlmente teremos uma classe política competente ou um jornalismo eficaz.
Vem todo este, longo, palavreado para ilustrar duas situações recentes com as quais me cruzei acidentalmente na supostamente nossa RTP, situações que ilustram uma certa forma displicente de fazer jornalismo e que só continuam a acontecer com regularidade porque temos uma larga faixa da população com confrangedores níveis de literacia.
A primeira aconteceu há alguns dias - na manhã do encerramento do tunel do Rossio. Antes das 8 horas antes de sair de casa, vejo um jovem aprendiz de reporter na estação de Campolide a tentar entrevistar passageiros da linha de Sintra sobre os incovenientes e incómodos que a situação lhes causava. Teve azar o rapaz porque as duas pessoas com as quais falar conseguiu não eram clientes habituais daquela linha. Mesmo assim, o hábil moço lá conseguiu convencer um dos entrevistados a dizer que sim senhor aquilo era uma chatice e um enorme incómodo para os passageiros da CP. Ou seja, em vez de se limitar a reportar, o reporter forçou o passageiro a dizer o que convinha à reportagem.
A segunda situação aconteceu hoje à hora do almoço a propósito da torre da igreja matriz de Penamacor que se encontra inclinada. Passando por cima da abusiva comparação com uma famosa torre italiana, o suposto jornalista que escreveu a peça resolver concluir a mesma afirmando qualquer coisa como "já que a ciência não consegue explicar o fenómeno [de a torre estar inclinada e não cair], então deve ser mesmo a mão de Deus a segurá-la". Tudo muito bem, não fosse o pequeno pormenor de na peça não se ter vislumbrado a mais ténue tentativa de encontrar uma explicação cientifica. Os únicos entrevistados foram uma idosa, uma transeunte e o padre local. Entretanto ignoro se a mão de Deus que tão diligentemente segura a torre de Penamacor é a mesma que há uns anos deu um golo à selecção Argentina de futebol.

quarta-feira, outubro 27, 2004

As lições do Professor

Marcelo Rebelo de Sousa foi hoje à Alta Autoridade para a Comunicação Social, um organismo que até há bem pouco tempo dispunha de uma visibilidade pouco mais do que nula.

O homem fez-me lembrar um herói da banda-desenhada, o Demolition Man, tão demolidoras para Pais do Amaral e Santana Lopes [e para outras personagens menores desta história como um tal de Rui Gomes da Silva, o ministro dos Assuntos Para Lamentar] foram as suas declarações.

terça-feira, outubro 26, 2004

Luto

John Peel, incontornável nome da rádio, morreu.

John Peel 1939 - 2004

A rádio perde um dos seus nomes maiores, talvez uma das últimas vozes da rádio, um homem que inspirou muitos radialistas em todo o mundo. Também o mundo da música, do Rock à Pop passando pela Electrónica, perde assim um dos seus maiores divulgadores. John Peeel era desde 1967 apresentador da BBC e foi ele quem revelou ao mundo centenas, ou milhares, de novos artistas, muitos dos quais se perderiam nas trevas da industria musical. Muitos outros, porém, têm para com John Peel uma divida que jamais poderá ser paga.

sexta-feira, outubro 22, 2004

London Calling [outra vez!]

Passou já um quarto de século sobre a edição de um dos mais espantosos álbuns que me foi dado ouvir: London Calling dos The Clash. Vinte e cinco anos depois e este continua a ser um álbum espantoso. Ouvi-o pela primeira vez numa cassete gravada pelo meu amigo, e companheiro de aventuras musicais, Lito. Essa cassete ainda hoje anda cá por casa, já muito roufenha.

Por algum motivo nunca comprei o álbum [em vinil ou em CD]. O motivo só podia ser este: uma edição especial [com o álbum original mais um CD de extras e ainda um DVD com um documnetário de Don Letts]. Já cá canta. E apetece ser punk outra vez. Logo a mim que nunca o fui.

quarta-feira, outubro 20, 2004

Só para contradizer

Morais Sarmento não pretende influenciar a programação da RTP. Isso é impensável. Principalmente a do canal 2, dirigido por Manuel Falcão, velho colaborador de Pedro Santana Lopes.

terça-feira, outubro 19, 2004

Nostalgia creeps [vol. II] # 4

Port d'Amsterdam

Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui chantent
Les rêves qui les hantent
Au large d'Amsterdam
Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui dorment
Comme des oriflammes
Le long des berges mornes
Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui meurent
Pleins de bière et de drames
Aux premières lueurs
Mais dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui naissent
Dans la chaleur épaisse
Des langueurs océanes

Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui mangent
Sur des nappes trop blanches
Des poissons ruisselants
Ils vous montrent des dents
A croquer la fortune
A décroisser la lune
A bouffer des haubans
Et ça sent la morue
Jusque dans le c?ur des frites
Que leurs grosses mains invitent
A revenir en plus
Puis se lèvent en riant
Dans un bruit de tempête
Referment leur braguette
Et sortent en rotant

Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui dansent
En se frottant la panse
Sur la panse des femmes
Et ils tournent et ils dansent
Comme des soleils crachés
Dans le son déchiré
D'un accordéon rance
Ils se tordent le cou
Pour mieux s'entendre rire
Jusqu'à ce que tout à coup
L'accordéon expire
Alors le geste grave
Alors le regard fier
Ils ramènent leur batave
Jusqu'en pleine lumière

Dans le port d'Amsterdam
Y a des marins qui boivent
Et qui boivent et reboivent
Et qui reboivent encore
Ils boivent à la santé
Des putains d'Amsterdam
De Hambourg ou d'ailleurs
Enfin ils boivent aux dames
Qui leur donnent leur joli corps
Qui leur donnent leur vertu
Pour une pièce en or
Et quand ils ont bien bu
Se plantent le nez au ciel
Se mouchent dans les étoiles
Et ils pissent comme je pleure
Sur les femmes infidèles
Dans le port d'Amsterdam
Dans le port d'Amsterdam


Jacques Brel, Olympia '64 [Barclay 1964]

Zzzz...

Hoje dormi uma sesta. Soube mesmo bem.

segunda-feira, outubro 18, 2004

Aos pontapés

Consta que ontem se realizou, algures em Lisboa, um importante desafio de futebol. Uma das equipas ganhou, a outra perdeu. Antes e depois do jogo, dirigentes dos dois clubes mostraram ao país a sua verdadeira face. Principalmente depois do jogo. Classificar de deselegantes as palavras vindas de ambos os lados da barricada, cheias de insinuações e veladas ameaças, é muito pouco. A má-educação tem limites, a farsa já cansa e a estes senhores nunca mais deveria ser colocado um microfone à frente. Luís Filipe Vieira, José Veiga e Pinto da Costa são pessoas da pior espécie e merecem-se uns aos outros. Os respectivos adeptos que os aturem! Por mim, volto a citar o seleccionador nacional de futebol: "Vão-se foder!".

P.S: não sou, felizmente, adepto de nenhum dos clubes.

Olha para o que eu digo...

Do fulgurante e omnipresente Luís Delgado: «Será que um dia Portugal deixará de condenar as pessoas só por terem esta ou aquela posição, que podendo não ser maioritária, exige respeito?» .
Vindo de quem ainda há dias clamava pelo internamento em hospital psiquiátrico de um colaborador do Público, não está mal como defesa da liberdade de expressão...

Liberdade de expressão e censura

«P. S.: A Lusa mandou a 7 de Outubro um telex para as redacções com as declarações de Cavaco Silva lamentando o afastamento de Marcelo. Passados poucos minutos um novo telex chegava a corrigir o anterior. A magna alteração introduzida era a seguinte: no primeiro parágrafo, onde se escrevia "afastamento" passava a escrever-se agora coisa mais neutra, ou seja, "saída". Mas Cavaco não falava de saída, mas de "afastamento", palavra que passava a só constar entre aspas no segundo parágrafo. Sem contaminar a linguagem do jornalista. Não sei de quem foi a ideia da magna correcção. Talvez do próprio jornalista, "não fosse o chefe...", ou do chefe, "não fosse o director...", ou do director, "não fosse o ministro...". Ou seria do próprio ministro, para garantir rigor dos serviços tutelados? Valha-nos Deus!»

Graça Franco, Tempo de Coniventes Sem Cadastro, Público, Segunda-feira, 18 de Outubro de 2004

sexta-feira, outubro 15, 2004

Aí está o futebol português no século XXI

Deve ser isto o que os peritos designam como "futebol moderno". Domingo há um jogo de futebol a contar para a Super [pausa para enorme gargalhada...] Liga entre as equipas do Sport Lisboa e Benfica e do Futebol clube do Porto. É normal, creio que em todos os campeonatos do mundo, que ocorram umas trocas de palavras e umas inofensivas provocações. Mas neste Portugal sempre na vanguarda da inovação, estamos sempre à frente em matéria de progresso. Assim se compreende que o clube visitado se recuse a ceder bilhetes aos adeptos do clube visitante, que os adeptos do clube visitante arranjem bilhetes "à má fila", que os dirigentes do clube visitado façam chantagem com o clube visitado e que o clube visitado ameace não comparecer ao jogo. Viva o progresso! Viva o futebol moderno! Salvé Vieira! Salvé Pinto da Costa!
Citando o seleccionador nacional de futebol, outro exemplo de elevação, bom-gosto e verve fácil, "vão-se foder!".

quinta-feira, outubro 14, 2004

Nostalgia creeps [on television, the drug of the nation] # 7

Listen well and listen close because I will say this only once: Allo Allo é, ainda hoje, uma das melhores séries televisivas de comédia [e não só!].

9 séries e 85 episódios com o selo de garantia do humor britânico.

Li algures que vai regressar no novo canal da SIC, a SIC Comédia.


Nostalgia creeps [vol. II] # 3

All Tomorrow's Parties

And what costume shall the poor girl wear
To all tomorrow's parties
A hand-me-down dress from who knows where
To all tomorrow's parties
And where will she go and what shall she do
When midnight comes around
She'll turn once more to Sunday's clown
And cry behind the door

And what costume shall the poor girl wear
To all tomorrow's parties
Why silks and linens of yesterday's gowns
To all tomorrow's parties
And what will she do with Thursday's rags
When Monday comes around
She'll turn once more to Sunday's clown
And cry behind the door

And what costume shall the poor girl wear
To all tomorrow's parties
For Thursday's child is Sunday's clown
For whom none will go mourning
A blackened shroud, a hand-me-down gown
Of rags and silks, a costume
Fit for one who sits and cries
For all tomorrow's parties


The Velvet Underground, in The Velvet Underground & Nico [1967 MGM Records]

quarta-feira, outubro 13, 2004

A propósito do pontapé na bola

Lembram-se?
De um país ao qual foi entregue a organização de um grande evento desportivo internacional - um dos maiores do mundo, dizem os seus sábios promotores...
De um país que construiu [ou renovou] dez excelentes, funcionais, confortáveis e dispendiosos recintos desportivos que estavam à frente e tudo o que de melhor se fazia no mundo...
De um país onde um certo desporto ia finalmente, e graças a esse evento internacional e aos moderníssimos estádios, entrar no século XXI, adaptando-se às novas realidades económicas, sociológicas e culturais...
De um país onde se celebrou o fair-play e se condenaram os excessos de hooligans [ingleses, pois então] alcoolizados e violentos...
De um país onde o grande evento desportivo internacional mobilizou milhões de bandeiras, bandeirinhas, gravatas e cachecóis...
De um país cuja selecção nacional uniu todos os cidadãos numa onda que varreu cidades, vilas, aldeias e berças...

Reconhecem?
Um país que acordou numa noite de Domingo, triste e acabrunhado, vendo que o sonho se havia desmoronado sob os toscos pés de um punhado de gregos...
Um país ao qual só se exigia, no máximo, que construísse ou remodelasse oito estádios...
Um país onde os clubes gastam o que não podem, são geridos por gente que também podia estar a gerir uma mercearia ou a descacar batatas...
Um país onde, à mínima contrariedade, se insultam jogadores, treinadores, dirigentes, adversários e curiosos...
Um país onde se aplaudem os vencedores e se espezinham os vencidos...

É o mesmo país. É o país dirigido por Luís Filipe Vieira, Jorge Nuno Pinto da Costa, António Dia da Cunha. É o país onde o líder de qualquer claque ou grupo de arruaceiros tem honras televisivas. É o país de Santana Lopes, João Jardim, Valentim Loureiro, Gomes da Silva, Ferreira Torres, Fátima Felgueiras, José Castelo-Branco, Narciso Miranda e de outras personagens do mesmo, ou inferior, calibre.

Esse país é uma merda. Ou, nas palavras mais elegantes de Eça de Queiroz, uma choldra.

It is not my country!

terça-feira, outubro 12, 2004

E é também o humor, estúpido

Ainda a propósito da linha política do governo, apercebi-me ainda nas últimas horas de outro aspecto tudo menos despiciendo. Falo do humor. Habitualmente, os políticos [e os dirigentes desportivos...] são fonte inesgotável de inspiração para os humoristas em geral, e para os cartoonistas em particular. Neste momento estou plenamente convicto de que o actual governo decidiu revolucionar, simultaneamente, a política e o humor em Portugal, . Só da conjugação de um talentoso grupo de comediantes seria pssível que brotassem tantas e tantas pérolas de humor, na linha non-sense dos saudosos Monthy Python. Assim, Pedro Santana Lopes e os seus subordinados abandonam o papel de fonte de inspiração que tradicionalmente cabe aos políticos desempenhar, para se assumirem eles próprios como humoristas [criadores e intérpretes de rábulas anedóticas e hilariantes]. Deste modo, e conjugando subtilmente o contraditório com o non-sense humorístico, Portugal tem uma nova forma de governar para oferecer ao mundo.
Podiam era ter-nos avisado. Ter-se-iam evitado muitos equívocos. E podiam também ter adoptado um nome de guerra. Qualquer coisa como The Santana Lopes Flying Circus, para dar um toque cosmopolita à coisa...

P.S.: Ah! E não me venham dizer que foi George W. quem inventou esta linha de actuação política. Quando muito terá inspirado vagamente PSL e a sua pandilha de comediantes. Comparado com PSL, W. é um mero aprendiz.

É o contraditório, estúpido!

Finalmente começo a perceber tudo. Afinal eu é que estava equivocado, e comigo milhões de portugueses e uns quantos comentadores políticos, notoriamente tudo gente de má vontade, including myself. Falo da linha política do governo. Desde já assumo o meu enorme, e duplo, erro: não só há governo [y si hay soy contra, como diria o proverbial anarca espanhol], como há uma linha política, um rumo, um desígnio, uma estratégia, enfim, qualquer coisa. É assim como as bruxas nas quais ninguém acredita, pero que las hay...
Então é assim [topem a citação big brotheriana made in TVI]: a linha política do governo é o contraditório. Ou seja, pela manhã o primeiro ministro afirma uma coisa, à tarde um ministro qualquer faz-se de novas e à noite, de preferência por volta das 20h00, o PM ou alguém por ele afirma exactamente o contrário do que havia sido dito pela manhã. Em alternativa, também pode suceder que um ministro qualquer vá sucessivamente prometendo uma determinada medida [ou a impossibilidade de uma medida] e num belo dia [de preferência por volta das 20h00...] o PM afirma exactamente o contrário daquilo que o seu ministro havia prometido para no dia seguinte dizer que afinal não era bem como ele próprio prometido no dia anterior. Um exemplo prático: o ministro das Finanças andou desde Julho a dizer que não podia baixar os impostos por isto e mais aquilo; ontem Santana Lopes comunicou ao país que no próximo ano o governo ia baixar os impostos; hoje o mesmo Santana Lopes já disse que o governo ia baixar os impostos no prósimo ano SE [hélas] houver o crescimento previsto pelo governo.
É o contraditório.

Obrigado, Blitz

Sou leitor de longa data - desde o número 13 ou 14 - do ainda hoje único jornal de música português, o Blitz. Ao longo destes anos, este semanário atravessou, como é natural em qualquer publicação, por momentos melhores e piores, altos e baixos, fez escolhas erradas. Mas sempre se consigou manter como uma referência na indústria [?] musical portuguesa [apesar "daquela fase" lamentável em que o nu-metal reinava na redacção e os execráveis Limp Bizkit eram incompreensivelmente elevados à categoria de deuses da música...].
Hoje em dia o Blitz continua com o seu quase sempre inestimável trabalho e, de há meses a esta parte, tem contribuido decisivamente para o crescimento da minha colecção de música nacional graças às edições, a reduzido custo, de uma já apreciável lista de títulos discográficos. Esta semana é a vez de Esquece Tudo O Que Te Disse / Respirar Debaixo de Água pelos Azembla´s Quartet, um álbum duplo que reune a banda sonora daqueles dois filmes de António Ferreira que vai rodar durante algumas semanas no leitor de CD's cá de casa. Como já aconteceu com outras edições [Mão Morta, Nus; Zen, Rules Jewels Fools; Hipnótica, Reconciliation; ou The Legendary Tiger Man, Fuck christmas, I Got The Blues].
Obrigado, pois.

sexta-feira, outubro 08, 2004

As obras de Santana [um resumo]

Antes de chegar a primeiro ministro deste desgraçado país, Santana Lopes tinha já uma vasta obra atrás de si, como todos muito bem sabemos. A maior de todas é, sem dúvida, a sua contribuição para o desenvolvimento da noite [bares e discotecas] da capital e da Figueira da Foz, bem como da imprensa cor-de-rosa portuguesa. Menos notória, e boicotada por um tal de José Roquette, mas também importante foi o legado - em milhões de contos - que deixou no Sporting Club de Portugal. Mais tarde, passou pela presidência da Câmara Municipal da Figueira da Foz e deixou por lá umas palmeiras e umas rotundas de inestimável valor. Daí saltou para a Câmara de Lisboa e lá deixou umas intenções, incompreendidas pelos infiéis, para a ressureição do cadáver do Parque Mayer, bem como um enorme buraco no Marquês de Pombal que ainda um dia há-de ter a sua utilidade. Por obra e graça de um emigrante de luxo e de um Presidente da República socialista, Santana aterrou no Palácio de S. Bento e nos últimos meses tem-se esforçado arduamente por deixar a sua marca em Portugal. Só não contava era com o sacana do Professor Marcelo Rebelo de Sousa que, por despeito, inveja e puro ódio, resolveu dificultar ao máximo a sua actuação, chamando a atenção dos portugueses para alegados erros políticos, supostas e variadas trapalhadas e presumíveis disparates do governo liderado por Santana. Uma injustiça, pá!

Política a Martelo [até enjoar]

Segundo a comunicação social há muita gente no PSD incomodada com a crise política em crise. Cavaco Silva, Marques Mendes, Vasco Graça Moura, Miguel Veiga, José Pacheco Pereira, Emídio Guerreiro, Teresa Gouveia, Jorge Neto, Carlos Encarnação e até Morais Sarmento são alguns dos notáveis que, de algum modo, exprimiram o seu desconforto. Quem se deve estar a rebolar de gozo é o recém-eleito secretário-geral do PS: com o PSD e o governo neste estado, não vai precisar de se esforçar por aí além para atingir os seus objectivos. continuar assim, não me admiraria que José Sócrates ganhasse as próximas legislativas [em 2006?] com uma confortável maioria, i.e, com uma maioria absoluta.

Há censura em Portugal!

Quem o afirma é Alberto João Jardim. Assim mesmo, com todas as letras: desde o 25 de Abril sempre houve censura em Portugal e ele pode prová-lo. O eterno líder dos madeirenses lá saberá do que fala [aos berros, como é habitual].

Há censura em Portugal!

Quem o diz é Alberto João Jardim. O eterno líder dos madeirense lá saberá do que fala [aos berros, com é habitual].

Política a Martelo [sempre em actualização]

Acabo de ouvir, no fórum TSF, um pateta qualquer, deputado do PSD, afirmar - sem se rir! - que em Portugal há liberdade de expressão e existe contraditório. Das duas uma: ou este idiota anda tão embrenhado na sua actividade parlamentar que não tem acompanhado as últimas notícias ou Rui Gomes da Silva, outro pateta só que ministro, não disse aquilo que todos, repetidamente, pudemos ouvir e ler.

Política a Martelo [em actualização]

Aqui pode estar uma [a?] explicação para a crise política em curso. É uma crise não é? Bem, pelo menos anda tudo a falar do assunto, portanto deve ser uma crise... Deve, deve...

Beijinhos & Parabéns

Corria o mês de Dezembro de 1981 quando Sémen saiu para a rua dando iníco a uma das mais importantes carreiras discográficas em Portugal.

Corria o ano de 1983 ou 1984, não me recordo com exactidão, quando pela primeira vez levei com a música rude e sem concessões de um quarteto de inconformados. Corria o ano de 1984 quando saiu aquele que ainda hoje é o seu melhor par de temas: Remar, Remar e Longa Se torna A Espera.

Corria o ano de 1986 quando foi editado o seu melhor álbum, Cerco, gravado no palco do lendário Rock Rendez-Vous, uma sala onde, ainda em 86, gravariam um mítico álbum ao vivo que só anos mais tarde seria editado [1º de Agosto ao Vivo no Rock Rendez-Vous].

Corria o ano de 1987 quando pela primeira vez os vi, finalmente, ao vivo [salvo erro, em Fevereiro] na lotadíssima e tórrida sala polivalente da Escola Secundária de Santa Maria do Olival em Tomar] com o Lito, companheiro de muitos concertos e nessa noite decidimos formar uma banda. Foi o ano do grande salto, com Circo de Feras. Nesse ano saí encharcado em suor do Pavilhão do Restelo [8 de Maio] quando eles receberam o seu primeiro disco de prata.

Entretanto, muita coisa mudou na minha vida e na deles e seguimos caminhos opostos. Já não me lembro há quantos anos os não vejo ao vivo. O último álbum que ouvi do princípio ao fim foi o 88. Porém... Sempre que os ouço na rádio por exemplo, mesmo nos seus piores momentos musicais, sou incapaz de mudar de estação. Foi-se, há muito, o quase fanatismo, ficou um imenso respeito pelo grupo mais influente da música portuguesa. Os Xutos. Hoje e amanhã comemoram 25 anos de carreira no Pavilhão Atlântico. Parabéns. Obrigado.

quinta-feira, outubro 07, 2004

Nostalgia creeps [vol. II] # 2

God Save the Queen

God save the queen
The fascist regime
It made you a moron
Potential H bomb

God save the queen
She ain't no human being
There is no future
In England's dreaming

Don't be told what you want
Don't be told what you need
There's no future
No future
No future for you

God save the queen
We mean it man
We love our queen
God saves

God save the queen
Cause tourists are money
And our figurehead
Is not what she seems
Oh god save history
God save your mad parade
Lord god have mercy
All crimes are paid

When there's no future
How can there be sin
We're the flowers in the dustbin
We're the poison in the human machine
We're the future
Your future

God save the queen
We mean it man
We love our queen
God saves

God save the queen
She ain't no human being
There is no future
In England's dreaming

No future
No future
No future for you

No future
No future
No future for me

No future
No future
No future for you

No future
No future for you


Sex Pistols [Virgin 1977]

Política a Martelo [agora a sério ou então não...]

O episódio do fim dos comentários dominicais de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI é revelador do estado a que chegou o exercício do poder em Portugal. Os senhores que o detém, isto é, a malta liderada por Pedro Santana Lopes, não pretende governar o país nem tenciona resolver os problemas do país. Aliás, mesmo que quisessem não seriam capazes. O seu nível intelectual e cultural é tão baixo, a sua falta de ideias ou convicções tão confrangedora, a sua incompetência tão gritante que não seriam capazes. Por isso, o que importa a esta gente incompetente, sem ideias ou convicções e ignorante é simplesmente manter-se no poder a todo o custo. Por isso, mais do que o inexistente conteúdo importa a forma, a imagem. Por isso, importa silenciar todos aqueles que se lhes opõem. Esta gente, apesar de incompetente, sem ideias ou convicções e ignorante, é muito perigosa. E o doutor Sampaio, que hoje recebeu o Professor Marcelo e há uns meses deu posse a Santana Lopes, das duas uma: ou é um inocente anjinho que não percebeu onde nos estava a meter, ou é tão incompetente, sem ideias e ignorante como a trupe de Santana que não percebeu onde nos estava a meter. Entretanto, quem lucra com toda esta situação é o próprio Marcelo, erigido pela esquerda e alguma direita em mártir da liberdade de expressão.

Política a Martelo

Há vários dias que não se fala de outro assunto: as homílias dominicais do Professor Marcelo na TVI. Tudo começou quando um tal de Rui Gomes da Silva resolveu fazer queixinhas públicas relativamente aos comentários pouco católicos do Professor. Esse senhor, cujos grandes méritos políticos se resumem ao facto de há anos ser apoiante indefectível do senhor Lopes que em má hora o Presidente Sampaio nomeou primeiro ministro de Portugal, sentiu-se ofendido na sua honra e despachou uma série de disparates avidamente reproduzidos por todos os orgãos de comunicação social.
Entretanto, o big brother, perdão, big boss, da TVI - Paes do Amaral [ou será Pais do Amaral?...] - chamou o Professor para um jantar e, provavelmente porque algo lhe caiu mal, este anunciou que abandonava as populares noites de Domingo da TVI. Daí para cá, Marcelo tem sido a grande figura mediática de Portugal. Da esquerda à direita, não há quem não se pronuncie sobre esta situação e até o Presidente, que em má hora nomeou o senhor Lopes primeiro ministro de Portugal, chamou Marcelo ao Palácio de Belém [para onde o senhor Lopes, aliás, sonhava mudar-se um dia]. Surgiram teorias e mais teorias, teses e mais teses, opiniões e mais opiniões sobre os motivos da decisão do Professor. Ele há quem ache que o governo de Portugal [Portugal tem um governo???] exerceu pressões no sentido de a TVI afastar, ou em alternativa domesticar, Marcelo [nomeadamente a oposição parlamentar]. Ele há quem pense que o que está em causa é a liberdade de expressão [incluindo notáveis do PSD de Pacheco Pereira a Marques Mendes passando por Vieira de Castro]. Ele há quem seja da opinião que Marcelo se armou em João Vieira Pinto e simulou um penalty inexistente [Luís Filipe Meneses e Duarte Lima, por exemplo]. Ele há quem balbucie umas palavras confusas sobre o assunto só para não ficar calado [António Pires de Lima].
Por mim, creio que estão todos errados. A explicação para o fim das homílias dominicais do Professor Marcelo é só uma: a Quinta das Celebridades, que recorde-se estreou no último Domingo. Cá para mim, José Castelo-Branco exigiu ser a única celebridade do circo televisivo de Paes [ou Pais?...]. Logo, Marcelo tinha que ser afastado. As queixinhas de Gomes da Silva foram tão somente um pretexto. Simples e cristalino. O problema é que aconteceu exactamente o contrário: Marcelo Rebelo de Sousa tem batido Castelo-Branco aos pontos nos indíces de popularidade nacional e parece que até as acções da Media Capital, proprietária do maior circo mediático do país, estão em queda.

sexta-feira, outubro 01, 2004

Portagens

Não entendo nada de política de transportes ou de finanças públicas nem de desenvolvimentos sustentados e outras coisas do género. Nesses, como em muitos outros assuntos, limito-me a guiar-me pelo bom-senso e a colher umas informações aqui e acolá.
O governo decidiu ontem introduzir portagens nas SCUTs e o ministro Mexia lá se explicou sobre os princípios dessa medida. Se bem entendi, o que o governo quer é poupar uns milhões de euros que, supostamente, irá investir em outras áreas.
Por mero acaso, até sou favorável ao pagamento de portagens, assim como acho que os combustíveis deveriam ser ainda mais caros, se os dividendos daí resultantes fossem investidos numa eficaz, confortável e segura rede de transportes públicos [rodoviários e, principalmente, ferroviários] de modo a incentivar a população a utilizar cada vez menos o automóvel e cada vez mais o combóio e o autocarro. O que se pouparia seria com certeza bastante, quer em termos económicos, quer, muito principalmente, em termos ambientais. Agora, fazer o que o governo está a fazer, obrigando-nos a pagar portagens sem nos oferecer alternativas decentes, é no mínimo um rematado disparate.