1. Quando jovem - inconsciente armado em rebelde - universitário em Coimbra, tive algumas discussões, leia-se troca de ideias, sobre música com as mais variadas pessoas. Com o Miguel sobre a irrelevância dos U2 e dos Pink Floyd, com a Olga e a Paula sobre os movimentos góticos e Industriais, com o Paulo sobre tudo e mais alguma coisa. Entre outros disparates, e algumas boas-ideias-desculpem-lá-a-imodéstia, defendiamos - eu e o Paulo - que os músicos se deviam reformar aos 30 anos, ou ser pura e simplesmente impedidos de produzir música. Como provas irrefutáveis dessa nossa "teoria" atirávamos para a mesa com os nomes de Pink Floyd, Rolling Stones, os ex-Beatles, Johnny Rotten, Neil Young e outros. Outra "teoria" que defendíamos tinha que ver com a falta de tempo [e de paciência] para ouvir música irrelevante, conservadora, retrógrada e inconsequente. Para quê perder tempo com um disco ou um concerto que nada nos oferecia de novo e excitante se podíamos estar a ouvir algo que nós tinhamos por inovador? A primeira "teoria" abandonei-a há já alguns anos [antes de eu próprio ultrapassar a barreira dos 30, aliás]. A segunda nem por isso. Realmente, para quê perder tempo com irrelevâncias?
2. De há uns tempos para cá, várias pessoas têm tentado convencer-me da qualidade de grupos como os Plaza, os Loto ou os X-Wife, para citar apenas alguns. O meu argumento é, repetitivamente, o mesmo: não tenho tempo, nem paciência, para perder com coisas que não passam de meras reciclagens de obras que, por acaso ou nem tanto, já ouvi no seu devido tempo. A pop-rock levezinha e inconsequente dos idos de 80 retomada pelos Plaza, os plágio descarados [e desavergonhadamente "subsidiados" pela imprensa lusa] dos New Order assinados Loto ou as desesperadas tentativas de João Vieira dos X-Wife para soar como o Johnnny Rotten não me dizem nada. Zero. Nicles. Além do mais, já dei para esses peditórios. "Mas já ouviste o álbum?", perguntam-me. Não. Nem quero ouvir. Nem vou ouvir. Não tenho tempo. Não tenho paciência, porra! "Arrogante!...", atiram-me. Se calhar. Mas se me explicarem onde está a novidade de qualquer um dos três nomes que dou como exemplo, prometo ouvir os álbuns. Entretanto, vou continuar a dedicar o meu tempo ao último dos Mão Morta e às estreias d' A Naifa e dos Dead Combo, para citar apenas alguns...
Na música, como nas outras artes e genericamente na vida, há que estabelecer prioridades e gerir o tempo limitado que nos é dado viver. Digo eu. Alguém, em seu perfeito juízo, troca um fim-de-semana na Damaia por um dia no Gerês?